Parecemos assim tão parvos?
A democracia portuguesa atravessa uma crise sem precedentes. Os vários órgãos de soberania têm estado debaixo de fogo por casos e casinhos provocados por quem parece ter pouca competência para ocupar os cargos que ocupa. Quer o Governo do PS quer o Presidente da República do PSD tem lidado muito mal quando confrontados com o escrutínio democrático da Assembleia da República e da Comunicação Social. Quando confrontados com várias situações duvidosas a resposta que têm na ponta da língua é “não sei” ou “não me lembro”. Aconteceu, por exemplo, com o ex-ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos na indeminização à Alexandra Reis, e, mais recentemente, com o secretário de Estado Lacerda Sales e Marcelo Rebelo de Sousa, no caso do tratamento médico milionários das gémeas.
Será que parecemos assim tão parvos para acreditar de quem ocupa os mais altos cargos da nação não sabem o que fazem ou não se lembram de decisões importantes? A resposta é evidentemente que não. Ninguém acredita em amnésias seletivas, o que torna estes casos ainda mais graves. Estes senhores sabem perfeitamente que estão a mentir, ou a ocultar a verdade, e decidem convictamente não contar toda a história. Sinceramente, não consigo encontrar razões para tal, a não ser que tenham esperança que a situação passe e caia no esquecimento.
No entanto, a comunicação de hoje não é a mesma de há dez ou vinte anos. Num mundo digital, a velocidade com que corre a informação é gigante. As pessoas querem saber mais sobre tudo e, por isso, parece ingenuidade tentar ocultar a informação que os cidadãos exigem saber. Estes velhos políticos insistem em atuações opacas e pouco honestas, completamente contrárias às exigências de transparência que a sociedade atual impõe. Não adianta mentir porque a verdade vem sempre ao de cima. As pessoas, organizações e comunicação social estão interligadas e dispostas a trocar informação entre si para apurar todos os factos.
O resultado destas atuações é naturalmente o descrédito das instituições democráticas. Quando menos íntegros forem os titulares de cargos públicos e políticos maior será o afastamento das pessoas à vida política. A postura dos membros do Governo e do Presidente da República deve ser responder com tudo o que fizeram e sabem que os outros fizeram. É esta confiança que mantém uma relação saudável entre eleitos e o povo. Qualquer comportamento menos digno mina esta relação e enfraquece a democracia. Com sucessivas eleições com taxas de abstenção tão elevadas, a verdade e a transparência deviam ser valores de qualquer político e dirigente público.