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Pode-se ensinar bom senso? Boa educação ou consciência?

António Paraíso
Opinião \ segunda-feira, março 21, 2022
© Direitos reservados
Para além da falta de educação e respeito, o motivo da minha perplexidade deveu-se à total ausência de bom senso de uma pessoa jovem, com acesso, hoje em dia, a muito mais informação do há 20 anos.

Assisti, na Avenida Conde de Margaride, a algo que me deixou perplexo. Fiquei estático por uns segundos, sem reagir. Aproximou-se da passadeira de peões um carro e parou no semáforo vermelho. Eu parei para apreciar aquele carro desportivo de luxo, com um design inconfundível e formas sensuais. Lindíssimo!

Enquanto o carro estava parado, o condutor abriu o vidro, colocou os dois braços de fora da janela, tinha um maço de cigarros na mão, retirou o invólucro transparente que embrulha o maço, atirou-o ao chão, abriu o maço, acendeu um cigarro. Entretanto o semáforo passou a verde e este condutor seguiu
viagem, deixando-me fascinado a ouvir o som daquele motor, mas estupefacto com a cena que acabara
de presenciar.

Tudo se passou em poucos segundos, mas vi que no volante estava um homem que aparentava 30 e poucos anos de idade. O que me deixou perplexo não foi tanto a falta de educação e respeito que é deitar lixo na rua, um espaço que é de todos e não apenas daquele condutor (embora eu acredite que ele não deite lixo no chão de sua casa). Só temos educação, boas maneiras e respeito pelos outros e pelo espaço público, se tivermos sido ensinados e/ou tivermos tido vontade de aprender.

Para além da falta de educação e respeito, o motivo da minha perplexidade deveu-se à total ausência de bom senso de uma pessoa jovem, que tem acesso, hoje em dia, a muito mais informação do que se tinha há 20 anos, sobre sustentabilidade, proteção do planeta e o impacto que o lixo deixado, aleatoriamente, no meio ambiente tem na biodiversidade, no clima, nos animais, e na forma como o planeta se comporta e, previsivelmente, evoluirá, com consequências na melhor ou pior qualidade de vida futura para todos.

Poder-se-á dizer que este foi um gesto inofensivo, tratando-se apenas de um pequeníssimo invólucro de material sintético de um maço de cigarros. Mas o gesto pode ser, e provavelmente é, revelador do padrão de comportamento que esta pessoa tem na sua vida quotidiana, por desleixo e falta de bom senso.

 

Equilíbrio nas decisões ou nos julgamentos

Aristóteles dizia que o bom senso é "elemento central da conduta ética. Uma capacidade virtuosa de achar o meio-termo e distinguir a ação correta, o que é em termos simples, nada mais do que bom senso”. Não existe verdade absoluta na atividade humana, e por isso mesmo, é importante que as pessoas tenham bom senso para fazer as suas escolhas e aprender técnicas que sejam úteis para tomar decisões.

Bom-senso é um conceito ligado às noções de sabedoria e de razoabilidade. É algo normalmente intuitivo, relacionado com a capacidade de pensar para fazer o que é correto. Está ligado à ideia de sensatez. E aquele comportamento que eu presenciei ontem não foi nada sensato, por parte de alguém, que tem ainda muitos anos de vida pela frente, que provavelmente tem ou vai ter filhos e talvez netos e não pensou, ou não pensa, no impacto que deixa no meio ambiente e no mundo em que vai viver nas próximas décadas.

Por isso muitas vezes me interrogo: será possível ensinar bom senso? Eu achava que não, até ter descoberto há uns anos o livro ‘Pensa, é Grátis!” do empresário espanhol Joaquín Lorente. Já li o livro duas vezes, em diferentes fases da minha vida. É possível aprender e aperfeiçoar a sensatez!

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