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Por uma nova geração de viajantes

Ruthia Portelinha
Opinião \ sábado, maio 28, 2022
© Direitos reservados
Viajantes mais autónomos, tolerantes e respeitadores das culturas, mais conscientes do seu impacto, serão uma realidade se ensinarmos hoje as nossas crianças.

O empirista Francis Bacon dizia que as viagens são uma parte da educação dos jovens, assim como da experiência dos velhos, encarando o mundo como uma ferramenta de instrução. A poucos dias de se festejar o Dia da Criança, celebro os pequenos exploradores que têm o privilégio de aprender na melhor das escolas: o planeta.

De um ponto de vista pessoal, as viagens são momentos familiares na base de memórias insubstituíveis, mas também uma estratégia pedagógica com múltiplas vantagens, sobre as quais já tive oportunidade de refletir diversas vezes (por exemplo, aqui). A tolerância é um dos benefícios mais preciosos que daí resultam. Quem sai frequentemente da sua zona de conforto, aprende a aceitar, até a festejar, a diferença.

Já devem ter percebido que discordo dos que dizem que os miúdos não aproveitam as viagens porque “não se vão lembrar de nada”, “são demasiado pequenos”, e outras conjeturas parecidas. Pelo contrário, acredito que as crianças aproveitam esses momentos de forma mais pura, sem preconceitos, prestam atenção a detalhes deliciosos, deixam-se invadir por cores e cheiros.

A maior herança que pretendo deixar ao meu filho são os momentos em que nos sentimos deslumbrados com o que nos rodeia, seja nos antípodas, seja no nosso bairro. Tenho esperança que ele nunca perca a capacidade de se maravilhar com o mundo. Também espero que a sua geração, que tem as viagens como algo adquirido, avance para um turismo mais equitativo e sustentável.

Dados recentes permitem-me permanecer otimista neste quesito. Uma sondagem concluiu que a maior parte dos jovens viajantes prefere alojamentos com políticas focadas na diversidade e inclusão. Isto parece indicar que tomam decisões baseadas em valores. Será que a indústria do turismo já percebeu isso?

Outro estudo diz que esta geração digital não quer sentir-se turista, mas como um local, ou seja, quer sentir que faz parte da comunidade que visita, rejeitando o turismo de massas. Os novos viajantes não querem ser mais um anónimo entre milhares. Pelo contrário, querem contar a sua estória, não motivados pelo ego, mas pela vontade de inspirar outros.

Por fim, segundo a organização Volunteer Southern Africa, a maioria dos viajantes-voluntários que recebe pertence às gerações mais novas, dispostas a arregaçar as mangas e contribuir, de forma significativa, para a conservação da vida selvagem.

Viajantes mais autónomos, tolerantes e respeitadores das culturas, mais conscientes do seu impacto, serão uma realidade se ensinarmos hoje as nossas crianças. O exemplo continua a ser o melhor modelo de ensino.

Tenho a consciência que viajar com as crianças é um privilégio ao qual muitas famílias não têm acesso. Muitos lutam para conseguir assegurar as condições básicas de saúde e educação aos seus filhos. Por outro lado, gasta-se bastante em brinquedos, apps e jogos de computador. No próximo Dia da Criança, porque não oferecer aos miúdos uma experiência? Pode ser algo tão simbólico como uma viagem de comboio.

Ruthia Portelinha, autora do blog O Berço do Mundo

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