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Rock na Quinta da Ponte, nas margens do Febras

Gonçalo Cruz
Opinião \ quarta-feira, julho 17, 2024
© Direitos reservados
As características do terreno foram mantidas, apesar das propostas surgidas para viabilização agrícola dos terrenos, que teriam implicado o corte de todas as árvores, propostas rejeitadas pela SMS.

Existem fortes indícios arqueológicos e textuais de que, no longínquo tempo dos castros, se realizavam festividades, incluindo banquetes, danças e rituais, em determinados lugares de exceção, por vezes fora dos povoados, inclusive em terras de vale. A utilização dos vales na Proto-história é ainda, em grande parte, desconhecida para nós, mas parece que algumas das celebrações sazonais comuns poderiam realizar-se fora de lugares habitados, em sítios específicos, de localização por vezes discreta, com vista para povoados próximos.

Em São Salvador de Briteiros, as terras que integram a Quinta da Ponte eram parte de uma propriedade maior que a quinta atual, que se mantém na posse da Sociedade Martins Sarmento, herdada do arqueólogo patrono. A interrupção da exploração agrícola nestes terrenos, a partir dos finais da década de 1970, acabou por determinar as características do bosque atual, formado maioritariamente por árvores autóctones, sobretudo carvalhos e salgueiros, que ali cresceram livremente nas últimas décadas. Temos assim um local que, apesar dos vários indícios que subsistem do aproveitamento agrícola dos últimos séculos – levada, moinho, socalcos – acabou por se reconfigurar com o aspeto que pode ter tido na Antiguidade, sendo um ponto privilegiado de observação do monte da Citânia, se nos procurarmos abstrair das construções atuais. Este contexto propiciou a ideia, há já uns anos, de desenvolvimento de uma “granja proto-histórica” neste espaço, com uma função pedagógica e experimental, como acontece em vários países do Norte da Europa, mas que apenas uma abordagem mais comercial poderia ter viabilizado, tendo em conta a dimensão do investimento necessário.

A Quinta da Ponte, em Briteiros

Contudo, as características do terreno foram mantidas, apesar das propostas surgidas para viabilização agrícola dos terrenos, que teriam implicado o corte de praticamente todas as árvores ali existentes, propostas rejeitadas pela Sociedade Martins Sarmento, que abdicou assim de um rendimento substancial, em nome da preservação do bosque nativo.

Graças a essa persistência, a Quinta da Ponte é hoje um espaço promissor para um futuro parque público, projeto que a Junta de Freguesia de Briteiros São Salvador e Briteiros Santa Leocádia e o Município de Guimarães têm vindo a estudar, com importantes intervenções no terreno por parte da Vitrus e do Laboratório da Paisagem. É também o local de realização da muito próxima edição do Rock no Rio Febras, no dia 27 de julho. O recente, mas já carismático, festival, é organizado pela Casa do Povo de Briteiros, coletividade que tem promovido uma significativa atividade sociocultural na zona, que agora se estende à Quinta da Ponte.

Regressando ao assunto inicial, proporciona-se, desta forma, a fruição de um local naturalmente belo, literalmente nas margens do Febras, tendo a Citânia como fundo, como pode ter acontecido há muitos séculos atrás.

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