Sem jornalismo, não há democracia
A situação vivida no grupo da Global Media trouxe para o domínio público uma discussão mais alargada sobre a situação do mundo jornalístico nos tempos atuais.
Não se trata de um problema novo, mas que a internet e as novas ferramentas que surgiram à sua volta acentuaram. Durante décadas, notícias “de borla” só eram lidas nos cafés ou em alguns escritórios que disponibilizavam os jornais para os seus clientes.
Com o aparecimento do mundo digital, os jornais não souberam ou não conseguiram potenciar os seus produtos. Para alargarem o seu número de visitas e de “cliques” nas respetivas páginas (parece que tudo se mede por visualizações), abriram gratuitamente as suas notícias. O público habituou-se a consumir na hora e sem custos a informação, e dispensou a compra dos jornais.
A venda dos jornais foi tendo cada vez menos impacto nas receitas, e as receitas provenientes da publicidade também foram diminuindo. As grandes empresas têm os seus próprios canais e as empresas proprietárias das redes sociais vivem em grande parte das notícias disponibilizadas gratuitamente pelos jornais, acabando por ficar com os proveitos da publicidade.
Não há liberdade política sem liberdade económica ou, aplicando ao setor, não haverá democracia sem jornalismo.
Aceita-se, sem grande discussão, que a cultura, a educação e a saúde públicas sejam suportadas em grande parte por verbas públicas. Talvez seja a hora de se assumir que o setor do jornalismo seja apoiado, de uma forma transparente, pelo Estado e por quem o representa. O porte pago, a questão do IVA, a componente canalizada para o estado dos salários dos jornalistas, a gratuitidade dos serviços da LUSA, e mesmo apoios diretos (tal como acontece, por exemplo, em França) são exemplos que podem contribuir para o respirar do setor. Sem pôr em causa a independência dos jornais, também se pode fazer algo junto do Poder Local, que poderá passar por um trabalho de base junto do público jovem, nas escolas e nas universidades.
O destaque desta edição vai para a entrevista com Isabel Fernandes, rosto, durante mais de duas décadas, da direção dos principais museus e monumentos de Guimarães, os mais visitados da região Norte. Faz-se o balanço da sua atividade, no momento em que a Direção Regional de Cultura do Norte é substituída pela Museus e Monumentos de Portugal, nova entidade pública empresarial para a gestão dos museus, monumentos e palácios nacionais.
Boas leituras!