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Sobre a criação da SEDES Braga – Uma reflexão

Esser Jorge Silva
Opinião \ quinta-feira, junho 23, 2022
© Direitos reservados
A intervenção do economista Fernando Alexandre mostra a necessidade de mudança de paradigma. A SEDES chegou ao Distrito de Braga para se ocupar de questões “estruturais” e não de "conjunturais".

Pensar o futuro faz parte da vida de qualquer cidadão. O mesmo acontece com a sociedade a que pertencemos. Se não for pensada e se não houver projeto comum decorrente desse pensar, temos uma sociedade à deriva. Pode até acontecer que durante algum tempo, nessa deriva, os ventos sejam de feição e a calmaria convoque confiança. Mas, nestas conversas que metem marés, convém pensar se há alicerces seguros na hora das tempestades. E convém ter em consideração que, além das tempestades, há as tormentas e, essas, quando chegam, não desaparecem apenas porque o nosso poeta fundacional as transformou em boa esperança. Neste tempo em que os riscos devem ser antecipadamente dominados com inteligência, em vez de serem enfrentados com argúcia temerária, estamos manifestamente a perder o nosso tempo à espera das vagas que nos dobrarão.

Neste presente vivido, percebemos todos que o futuro foi de tal forma esquecido ao ponto de grande parte dele estar empenhado. Vivemos bem mas às custas de alguém que, no futuro, terá de pagar. Mas este viver bem às custas do futuro tem um custo direto na sociedade portuguesa do presente: estamos a espezinhar os nossos jovens! Isto é, fruto de uma incompetência coletiva, a sociedade atual demonstra não merecer a sua juventude e esta, em resposta, vai-se embora para outras paragens. Isto é, defenestramos os nossos jovens. E é paradoxal que tal aconteça na medida em que, a todo o momento, se fala na existência da geração jovem mais bem preparada de sempre.

O problema central reside na circunstância dos diagnósticos estarem todos feitos mas das soluções tardarem por recusa de nelas se pensar. Estamos acomodados, vivendo sob anestesia. Contentámo-nos individualmente com a vidinha. Com o presente e com a nossa sorte, entretanto entrevista como a melhor das sortes. Mas vemos em todos os outros a responsabilidade da melhoria da vida coletiva. Descontentes, referimo-nos a “este país”, retirando-nos, por momentos, do lugar de contribuinte passivo para a realidade que nos incomoda. Na verdade a nossa realidade coletiva revela uma similitude na prosápia individual. Enquanto não fazemos, não agimos, não contribuímos, não imaginamos, não exigimos, encontramos no político, e na política, o centro de todos os males. O representante eleito é, a todo o tempo, alguém pertencente a um domínio genericamente designado por “eles” a quem se atribuem todas as culpas da má sorte que nos enleva.

Os tempos são a modos em que os custos da ação política são superiores aos custos da não-ação política. Por ação política não se quer dizer a ação reativa gerada no, e pelo (i)mediatismo mas a ausência de estratégia no planeamento de projeto coletivo sustentado. Nada fazer é politicamente mais rentável do que romper com a letargia. Deste modo, introduzir atos de coragem política é garantia de problemas e possível derrota eleitoral. Porque, na cultura política portuguesa, a vida letárgica é mais valorizada do que a vida agitada. Essa cultura decorre do princípio de que toda a ação levará a coisa pior, o que dá lugar aos resultados do modo de vida concebido segundo princípio da inação. A preocupante realidade é que Portugal se vê sempre a descer nas estatísticas. Pior é que não se vislumbra nenhum plano para inverter a situação.    

Alguns grupos e associações em Portugal têm mostrado a sua preocupação sobre este caminhar alegremente em direção ao abismo. A SEDES – Associação para Desenvolvimento Social e Económico é uma delas. Nascida em 1970, a SEDES esteve sempre presente na antecipação das estratégias do país. De lá produziram-se não só documentos orientadores fundamentais como saíram, também, os primeiros governantes do Portugal democrático. Nestes 50 anos passados, a SEDES conseguiu aglutinar pensamento e contributos técnicos de vários indivíduos motivados para uma ideia, não só de bem comum mas, essencialmente, de futuro. Os seus arquivos, disponíveis no seu site na internet demonstram isso mesmo. Basta aceder e ler. Após a realização do V Congresso, o seu papel na convocação de cidadãos para um fim que se chama Portugal está, neste momento, mais ativo do que nunca.

É nesse sentido que, no passado dia 3 de junho nasceu, no Salão Nobre da Reitoria Universidade do Minho, a SEDES Braga.  Além de Álvaro Beleza, presidente da SEDES, contou com a presença da maior parte dos presidentes de Câmara do Distrito assim como com uma grande adesão do mundo empresarial e académico. A intervenção do economista Fernando Alexandre – presidente do Conselho Consultivo Distrital, mostra a necessidade de mudança de paradigma, do Made In para Creat In, mote secundado pelo Presidente do Conselho Coordenador Distrital, Carlos Vasconcelos: a SEDES chegou ao Distrito de Braga para se ocupar de questões “estruturais” e não de “questões conjunturais”.

O estender da SEDES a todos os distritos do país marca essa dinâmica e mostra como hoje, a associação sabe da existência de massa crítica, na totalidade do país, capaz de contribuir para essa ideia de um Portugal que se deve celebrar a todo o tempo mas que, também, deve coexistir com o princípio da insatisfação.

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