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Trazendo à luz a Casa de Pousada, em Azurém

Gonçalo Cruz
Opinião \ terça-feira, junho 21, 2022
© Direitos reservados
O entorno atual desta Casa de Pousada parece ter saltado direitinho desses recuados tempos (...), não sendo difícil imaginar Urraca Manteiga a cirandar pelos carvalhos que rodeiam a vetusta torre.

Ouvir-se-ão ainda, por aqui, como quase sugere Maria Adelaide Moraes, as conversas, os sussurros e as orações de uma certa Urraca Nunes Manteiga? Curioso nome o da fidalga do século XIII que era, à época, a proprietária desta quinta de Pousada, no termo de São Pedro de Azurém, terra então, como a maior parte das freguesias vizinhas, dedicada à agricultura mais ou menos intensiva, com algumas bouças florestais. O entorno atual desta Casa de Pousada parece ter saltado direitinho desses recuados tempos da Idade Média plena, não sendo difícil imaginar Urraca Manteiga a cirandar pelos carvalhos que rodeiam a vetusta torre. Urraca terá estado na origem da família que foi proprietária desta quinta durante séculos, os Peixoto, que detiveram estas terras até 1894, data em que, pela primeira vez, a quinta foi vendida.

Encontra-se por entre a parca bibliografia que a ela se refere, alguma “doutrina” sobre a classificação estilística dos elementos medievais do edifício. Constituem eles, hoje, uma pequena parte do conjunto, cujo aspeto geral lhe foi atribuído pelos restauros de 1903 e de 1959/1960, marcados por uma abordagem revivalista, mas muito direcionados para uma utilização habitacional condigna. Porém, quase ironicamente, é esta pequena parte que faz da Casa de Pousada um monumento raro e, diríamos até, quase exclusivo, dada a singularidade da janela armoriada do piso intermédio, na fachada Leste da torre. Esta elegante janela, mostrando quatro elementos heráldicos sob um arco quebrado, em torno do vão da janela, também ogival, bem como uma outra na fachada sul, no mesmo piso, são características do gótico do norte do país, e atribuídas genericamente ao século XIII. Portanto, aos tempos da supracitada Urraca Manteiga. Isto não quer necessariamente dizer que a torre original tenha sido construída nesta época - como supôs José Moura Machado, ao refutar uma origem românica da construção - sendo possível que também os elementos góticos tenham sido acrescentados.

Fachada nascente da Casa de PousadaFachada nascente da Casa de Pousada

Esta e outras questões, como a datação do corpo alegadamente acrescentado na Idade Moderna, continuam em aberto. Pouco podemos esperar de uma datação através de eventuais sedimentos das valas de fundação, tendo sido a torre assente diretamente sobre os rochedos, que lhe garantem a sustentação, e tendo em conta o provável revolvimento provocado sobretudo pelas intervenções realizadas no século XX. Contudo, ao nível da Arqueologia da Arquitetura, as potencialidades são evidentes, pensando num levantamento fotogramétrico que permita estudar o faseamento da construção.

Para além das questões cronológicas, esta velha torre senhorial é um espaço histórico, evocativo e único. A Casa de Pousada foi doada, em 2020, à Sociedade Martins Sarmento, pelo Dr. Luís Bandeira. Enquanto se estuda uma utilização futura do espaço, para o qual já existem várias propostas, a SMS tem promovido a sua divulgação, dando a conhecer ao público mais uma jóia do património de Guimarães, praticamente às portas da cidade.

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