Uma nova era para a Saúde em Guimarães. Em que condições?
O Hospital da Senhora da Oliveira – Guimarães (HSOG) foi inaugurado há cerca de trinta anos. Representou para a cidade e a região, nesse momento, uma mais valia inédita em prestação de cuidados de saúde, com instalações excelentes, corpo clínico maior, mais diferenciação técnica, mais especialidades, um sem fim de vantagens quando comparado com o hospital anterior que se revelava inevitavelmente exíguo para aquilo que lhe era legitimamente exigido.
O HSOG desenvolveu-se ainda mais ao longo do tempo, mas rapidamente se constatou ser pequeno para as necessidades, quiçá por a sua construção ter sido demasiado demorada e como tal o projecto inaugural estar desadequado no tempo real, além de ter sido pouco ambicioso. Tentou-se atenuar esta fatalidade construindo posteriormente um novo edifício (denominado Consulta Externa 3), para albergar gabinetes de consulta, cirurgia de ambulatório, Unidade de técnicas de gastrenterologia e Serviço de Oncologia.
Entretanto no edifício principal não foi efectuada ao longo dos anos a manutenção e a modernização que se impunha num edifício com uma enorme utilização, permitindo uma deterioração assinalável em alguns aspectos, que se tem procurado corrigir nos últimos anos. Muito recentemente, num golpe de asa político numa era em que novos ventos sopram na gestão do Serviço Nacional de Saúde, a tutela decide criar a Unidade Local de Saúde de Guimarães, com o objectivo de melhorar a integração e coordenação de cuidados na região, iniciativa rapidamente apoiada de forma pública pelo poder local representado pela Câmara Municipal de Guimarães. Será consensual que se for para melhorar, todos deveremos concordar. Contudo, numa estrutura como a que se pretende, o Hospital tem um papel central, na maior parte das vezes como estrutura diferenciada de fim de linha, e importa ver se em termos de recursos humanos e físicos está capacitado para tal. No primeiro aspecto exige-se algum reforço, uma vez que por todas as razões é impensável perder ou transferir valências, nomeadamente para a capital do distrito. Pelo contrário, devem ser reforçadas no HSOG, inclusive incluindo a hipotética possibilidade de poderem em alguns casos prestar apoio distrital. Com esse reforço de recursos humanos virá por acréscimo algum reforço tecnológico que se entenda pertinente.
No respeitante à estrutura física do HSOG, tal como está, é manifestamente insuficiente. Está desajustado em função da resposta assistencial atempada que deve assumir. O internamento em algumas áreas é diminuto e precisa de ser reajustado, mas essencialmente a área de ambulatório, a grande aposta da medicina e dos hospitais modernos, precisa de ser redimensionada com novas instalações e/ou expansão das actuais. Não é concebível que os médicos queiram fazer mais consultas e não tenham gabinetes adequados para as concretizarem, que a cirurgia de ambulatório (uma das grandes apostas estratégicas da medicina contemporânea) esteja asfixiada por instalações exíguas e impossibilitada de se expandir, que os exames complementares não consigam dar a resposta em tempo útil que se deseja por falta de recursos físicos, técnicos ou humanos. Tudo isto origina atrasos, cancelamentos, resposta ineficaz, prejuízo para a população. E a articulação com as Unidades de Cuidados Continuados e Paliativos, bem como os cuidados de medicina domiciliaria, a quem devem ser criadas condições, têm de ser igualmente eficazes para que não fiquem lotadas as camas hospitalares (como hoje frequentemente acontece) originando falta de dignidade nas condições de resposta a doentes agudos e cancelamentos/adiamentos de procedimentos programados por falta de camas de internamento. É ridículo e triste recorrentemente ouvir-se dizer que o hospital está sobrelotado.
Assim sendo, pela importância chave que o HSOG terá na nova estrutura que se prevê a curto prazo, o mesmo deverá ser repensado. Para tal é imprescindível arranjar fundos (seja do PRR ou outros) que permitam uma ampliação adequada do HSOG, com especial enfase na área do ambulatório, rever as necessidades de recursos humanos e actualizar os meios técnicos. Só com uma programação adequada e uma injecçao financeira tal será possível. Para tal terá de haver um envolvimento da tutela, um forte e reivindicativo papel do poder local, da administração do hospital e colaboração dos seus profissionais, na certeza de que se não se proporcionarem essas novas condições, o novo projecto não mais será do que um “lavar de cara” votado ao insucesso, permitindo simular que algo se fez mas realmente manter tudo na mesma ou cada vez pior na medida em que previsivelmente as necessidades assistenciais aumentarão cada vez mais, que do ponto de vista de numero quer de diferenciação.