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Uma “prisão de gado” fora do comum

Gonçalo Cruz
Opinião \ quinta-feira, setembro 12, 2024
© Direitos reservados
Os elementos de fixação das cordas aparecem ou em áreas fechadas, que deveriam funcionar como estábulo, ou junto às portas das casas, onde seria comum “estacionar” as reses.

Ao deambularmos pelas ruínas de qualquer castro minhoto, com mais frequência nos locais onde se realizaram escavações intensivas, é comum encontrarmos elementos em pedra perfurados: um pequeno esteio alongado, com uma cavidade aberta numa das extremidades. Estas pedras têm sido interpretadas, sem grande controvérsia, com duas funções possíveis: elementos de fixação a uma parede das amarras de um animal; ponto de fixação de couções de portas ou cancelas, também embutido numa parede, mas na posição horizontal. Como muitas vezes estas pedras aparecem avulsas, nem sempre é possível aferir se tinham a primeira ou a segunda utilização, embora as duas funções estejam documentadas em Briteiros in situ.

Entre as “prisões de gado”, como são conhecidas, existem variantes de acordo com os recursos disponíveis. O espaço habitacional tinha que ser organizado de forma a que os animais não “invadissem” áreas de exclusiva utilização humana, como cozinhas, celeiros, espaços de comer ou de dormir, mas também para que os animais de certa família não fugissem para a casa do vizinho. Falamos naturalmente de cavalos, burros e bois, usados no transporte de mercadorias, e não dos animais de pequeno porte, que deveriam andar mais livremente. Os elementos de fixação das cordas aparecem ou em áreas fechadas, que deveriam funcionar como estábulo, ou junto às portas das casas, onde seria comum “estacionar” as reses. Algumas peças mostram mesmo decoração esculpida em relevo, mas são casos mais raros.

Prisão de gado rupestre, na Citânia de Briteiros". (Fotografia: Paulo Dumas)

O exemplo que aqui mostramos ainda se encontra no sítio, e está num ponto hoje pouco frequentado da Citânia, porque afastado das vias principais. Em vez de um elemento de pedra embutido na parede, a perfuração foi feita diretamente na rocha natural, que serve também de alicerce à casa circular ali existente. A argola para fazer passar a rédea da montada foi assim esculpida no granito, mesmo por baixo da porta da casa, revelando, também aqui, a mestria do trabalho dos pedreiros castrejos. Poucos metros ao lado, uma outra casa mostra uma cavidade igualmente esculpida, junto à porta, no que pode ter sido trabalho do mesmo canteiro.

Muitas “prisões de gado” foram removidas do local, ou por ruína da parede, ou por reaproveitamento. Contudo, o número elevado de elementos soltos (pese embora muitos sejam couções de portas) dá-nos uma ideia da quantidade de quadrúpedes que outrora povoavam os castros, numa época em que pessoas e animais domésticos viviam em grande proximidade, como era comum em comunidades agro-pastoris.

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