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Valorização dos "Quatro Irmãos"

Gonçalo Cruz
Opinião \ quarta-feira, janeiro 03, 2024
© Direitos reservados
As célebres cruzes páteas e espadas, que se veem em alguns dos elementos, ajudam a reforçar o carácter guerreiro, ou pelo menos aguerrido, dos quatro lendários parentes.

A realização de uma obra de arranjo da Rua dos Quatro Irmãos, pela Junta de Freguesia de São Martinho de Sande, com intervenção no conjunto conhecido como "Túmulo dos Quatro Irmãos", motivou o acompanhamento arqueológico dos trabalhos. Esta medida justifica-se pela sensibilidade do local, aliada à parca informação sobre este curioso monumento, cujo registo foi efetuado há poucas semanas, durante os trabalhos de limpeza.

O conjunto, que fica à margem da referida rua – que noutros tempos foi um dos principais caminhos do Concelho e, muito provavelmente, uma antiga via romana – integra a boca de uma mina de água, que corre diretamente para uma poça, e um conjunto de elementos em pedra, que será, segundo a tradição, o túmulo de quatro irmãos desavindos, que por aqui se terão feito massacrar. A boca da mina, e a respetiva poça, em tempos utilizada como bebedouro, lavadouro, enfim, abastecimento de água local, terão um interesse mais etnográfico. Já o alegado conjunto sepulcral é particularmente original, formado por quatro volumes horizontais (dos quais apenas três são tampas de sepultura, sendo o quarto formado por duas pedras indeterminadas) e quatro esteios verticais (dos quais duas estelas funerárias).

Aparte a curiosa lenda, sobre a qual também aqui falaremos, os elementos que formam este conjunto impressionam pela sua antiguidade, remontando à Idade Média, e pela sua iconografia. As célebres cruzes páteas e espadas, que se veem em alguns dos elementos, ajudam a reforçar o carácter guerreiro, ou pelo menos aguerrido, dos quatro lendários parentes. Integrando três tampas de sepultura e duas estelas funerárias discoides, os elementos medievais terão sido deslocalizados, em data incerta, provavelmente a partir de uma necrópole próxima. Quer isto dizer que eles não foram concebidos para a construção deste monumento, mas que serão elementos reaproveitados.

Já o monumento em si, pode ter sido feito com esta intenção expressa, um memorial a determinado acontecimento – fosse o lendário massacre fratricida ou outro – ou então seria uma plataforma construída para uma utilização mais eficaz da fonte vizinha. Claro que se mantém a hipótese, embora remota, de uma tumulação, o que só se poderia verificar com escavação dos contextos por debaixo das tampas que referimos. Ao fazer-se a limpeza da poça, apenas se conseguiu perceber que as tampas assentam sobre uma estrutura pétrea que as suporta. Da poça, que está agora novamente funcional, os materiais recolhidos enquadram-se no âmbito cronológico dos últimos trezentos anos.

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