skipToMain
ASSINAR
LOJA ONLINE
SIGA-NOS
Guimarães
23 novembro 2024
tempo
18˚C
Nuvens dispersas
Min: 17
Max: 19
20,376 km/h

Maid e a violência invisível

Luísa Alvão
Opinião \ terça-feira, outubro 26, 2021
© Direitos reservados
Haverá muito porque falar aqui, mas aquilo que mais me entusiasmou nesta série é a forma como esta personagem é construída.

Inspirada num livro, em que a autora, Stephanie Land, conta-nos a sua experiência pessoal como mãe solteira que escapa de uma relação abusiva, Maid (série disponível na Netflix) é uma série sobre violência, ainda que esta não se manifeste de forma física.

Comecemos pelo princípio. Alex é mãe de uma criança em idade pré-escolar. O pai, e companheiro de Alex, é Sean. Pai ausente, trabalha longas horas num bar, alcoólico, que descarrega em Alex, a frustração com a vida que tem. Após um murro que vai parar ao lado do seu rosto, Alex pega na filha e sai de casa.

O caminho que Alex percorre até encontrar a sua independência é penoso, difícil de ver. Primeiro, debate-se com o facto de ser uma vítima de violência doméstica, quando nunca sofreu de violência física. Depois a sua luta com a o absurdo e a cegueira de todo o processo burocrático para encontrar apoio do estado para ela e para a sua filha. A violência simbólica e subtil com que os que a rodeiam a tratam, desde a mãe – também ela vítima de abuso, - a chefe da empresa de limpezas onde trabalha e as donas das casas em que trabalha, o amigo que lhe oferece ajuda apenas para a pôr na rua quando as suas intenções sexuais não são correspondidas. E, por último, a conivência de toda uma sociedade com Sean, o companheiro alcoólico – Sean, o pobre coitado alcoólico que quer tanto melhorar e que Alex se recusa a ajudar.

Haverá muito porque falar aqui, mas aquilo que mais me entusiasmou nesta série, é a forma como esta personagem é construída. Alex não pode procurar abrigo na mãe, ela mesma vítima de violência doméstica, nem no pai, o agressor. Devido ao isolamento a que estava confinada, Alex não tem uma rede de amigos que a apoie. Sai de casa à procura de uma alternativa para ela e para a sua filha e debata-se com coisas que não entende. Mas rapidamente aprende com uma colega do abrigo onde se encontra, que não se pode dar ao luxo de ficar deitada na carpete. Há toda uma vida a construir.

E para mim, este é o verdadeiro encanto desta série. Alex constrói a sua vida com tenacidade, encontrando soluções para todos os problemas com que se depara e assumindo finalmente a responsabilidade da vida nas suas mãos. Esta também é uma série sobre a coragem de nos afastarmos das pessoas que nos agridem, que nos ensina a ver como a violência também pode ser emocional e que as suas marcas podem ser tão invisíveis  quanto profundas.

Podcast Jornal de Guimarães
Episódio mais recente: O Que Faltava #83