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Partido Vivo de Esperança

André Teixeira
Opinião \ terça-feira, outubro 18, 2022
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Uma das visões para o PS venceu de forma inegável, mas quem ganhou foi todo o partido e. com este, a nossa cidade. Um PS melhor é uma Guimarães melhor, esteja ele nas rédeas do poder municipal ou não.

Corre por aí a ideia de que a agência partidária está morta, uma relíquia de uma fase onde a democracia era mais jovem, mais esperançosa e com menos vícios autodestrutivos. Muitos consideram como positiva a chegada desta nova era de política pós-partidária, sem perceberem que partidos são a base da organização cidadã.

Com todos os seus numerosos flagelos, os partidos são uma necessidade da democracia representativa, mediadores entre a mera opinião de rua e a discussão organizada, portas de entrada onde todos são, ou deveriam ser, bem-vindos, independentemente de origem, classe, ocupação ou capacidade. Partidos servem para ensinar democracia pela prática aos cidadãos através dos seus processos internos, para harmonizar visões semelhantes ao longo do tempo e do território, para facilitar a distribuição do poder administrativo e assegurar a responsabilização coletiva daqueles que exercem esse poder.

Uma democracia sem partidos é um sistema autoritário, individualista, dependente de personalização exagerada, onde existem barreiras de classe inultrapassáveis, onde não existe manutenção da nossa memória histórica, onde os sucessos singulares de indivíduos que sobrevivem à lei do mais forte são venerados acima do exercício simples do voto e da palavra. Uma democracia sem partidos não é, em essência, democrática, pervertendo os seus pilares de igualdade, liberdade e fraternidade.

Em suma, existem muitas formas de envolvimento político e democrático sem ser através de partidos, mas não existe democracia representativa sem eles. A demonização da agência partidária é um erro que só beneficia aqueles que pretendem tirar proveito pessoal dos partidos, e o manifestamente precoce anúncio da sua morte não é razão de felicidade para todos que se identifiquem como republicanos ou democratas.

Foi, portanto, com esperança que vi a enorme afluência às urnas na eleição para a concelhia de Guimarães do Partido Socialista, na qual participaram 1.835 votantes. A Escola Secundária Francisco de Holanda viu durante o passado dia 8 de outubro os quase dois milhares de militantes socialistas que foram professar preferência por uma de duas visões para o partido. Não sendo esta uma escolha definitiva, ficou finalmente aberta a porta para um PS mais democrático, transparente e funcional na nossa cidade.

Os mais cínicos dos leitores dirão que apenas existiu tamanha participação devido às ambições pessoais dos dirigentes de ambas as listas, para quem vitória significa possibilidade de acesso a poder e influência, não sendo a participação fruto de qualquer interesse cívico por parte dos vimaranenses. Esta é uma verdade parcial e irrelevante. Não existe vitalidade interna num partido sem conflito, sem confronto de visões e ambições, e apenas nestes momentos agónicos é possível envolver na política ativa massas de cidadãos.

O conformismo e a manutenção do poder não exigem grande esforço, surgindo este apenas quando é necessário para o sucesso. Eleições concorridas são assim essenciais para o progresso de um partido e de todo o sistema democrático, independentemente da virtude (ou falta dela) das partes nelas envolvidas.

Uma das visões para o PS venceu de forma inegável, mas quem ganhou com o ato eleitoral foi todo o Partido, não apenas os apoiantes da lista vencedora, e com este a nossa cidade. Um PS melhor é uma Guimarães melhor, esteja este nas rédeas do poder municipal ou não. Esta é a maravilha da agência partidária e a sua maldição, a razão pela qual devemos procurar melhorar e defender os nossos partidos. Viver com eles é difícil... mas viver sem eles é impossível.

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