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A propósito dos Jogos Olímpicos 2024

Álvaro Manuel Nunes
Opinião \ quinta-feira, julho 25, 2024
© Direitos reservados
Guimarães orgulha-se de ser uma cidade de desporto e conquistadores, que em 2013 seria designada Cidade Europeia do Desporto e seria distinguida como a “Melhor Cidade  Europeia do Desporto”.

Por decisão da 131ª. sessão do Comité Olímpico Internacional (COI), reunido em Lima (Peru) em 13 de Setembro de 2017, a XXXIII Olimpíada iria decorrer neste ano de 2024 em Paris, entre 26 de Julho e 11 de Agosto. Deste modo, cem anos depois das Olimpíadas de 1924, também ocorrida em Paris, a capital francesa vai receber pela terceira vez a organização do evento, do qual já fora anfitriã nos Jogos Olímpicos de 1900.

Porém, as Olimpíadas, realizadas em homenagem aos deuses gregos, têm longo historial e  remontam à antiga Grécia e à cidade de Olímpia, no sudoeste do país, por volta de 776 a.C. Olimpíadas antigas que se prolongariam até cerca de 393 d.C., tempo em que  imperador romano Teodósio decretou a sua extinção, o que levaria à sua interrupção por 1503 anos.

No entanto, as chamadas Olimpíadas Modernas voltariam em força em 1896, em Atenas, graças à ação do pedagogo e desportista francês, Barão Pierre de Coubertin. Jogos em que participariam (apenas) 14 países e 241 atletas, todos do sexo masculino. Com efeito, somente em 2017 seria possível que todos os países enviassem atletas femininos. De facto, uns jogos ainda incipientes, centrados sobretudo nas modalidades de atletismo, ciclismo, esgrima, ginástica, halterofilismo, luta, natação e ténis.

Porém, nos Jogos Olímpicos de Verão de 2024, estarão em competição 48 modalidades e 32 desportos, registando-se como novidades a estreia do breakdance e da canoagem slalom extremo.

Jogos que, segundo o Estatuto Olímpico, têm o propósito de “colocar o desporto ao serviço do desenvolvimento harmonioso da humanidade, promovendo uma sociedade pacífica e preocupada com a preservação da dignidade humana.”. De facto, uma bandeira icónica cujos  5 aros olímpicos  simbolizam nas cores azul, amarelo, preto, verde e vermelho, sobre um fundo branco a união dos cinco continentes e cuja tocha olímpica, que anuncia a celebração das  Olimpíadas, representa a paz e a amizade.

No entanto, não obstante a sua participação em 25 edições e 29 modalidades, iniciada no ano de  1912, em Estocolmo, somente há cem anos, concretamente em 1924, Portugal obteria a primeira medalha nos Jogos Olímpicos,  concretamente por parte da seleção de hipismo, na prova equestre de obstáculos, que na circunstância conseguiria a medalha de bronze na Taça das Nações-. Uma seleção constituída por oficiais de cavalaria, na qual participaria Luís Cardoso Meneses, montando “Profond”,que apesar de não ter nascido em Guimarães, tem entre os seus ascendentes diretos, raízes vimaranenses, pertencentes à antiga família de Margaride.

Ora, até hoje, nas várias edições da Olimpíadas de Verão, Portugal arrecadou 28 medalhas: 5 em ouro, 9 em prata e 14 de bronze. De facto, com exceção dos anos de 1916, 1940, 1944 , coincidentes com as duas guerras mundiais,  nos quais, por motivos óbvios, não decorreram os Jogos Olímpicos, várias vezes  o nosso país regressou a casa medalhado, não obstante alguns percalços, como em 1992, nas Olimpíadas de Barcelona

Com efeito, após a primeira medalha, em 1924, Portugal subiria de novo ao pódio olímpico em 1928, em Amesterdão, na modalidade de esgrima, na competição por equipas em espada, conquistando uma medalha de bronze; e pouco depois, nas Olimpíadas de Berlim de 1936, arrecadaria uma outra medalha de bronze, numa prova equestre.

Por seu turno, a primeira medalha de prata ocorreria apenas em 1948, em Londres, no ano de 1948, obtida pelos irmão Bello na modalidade de vela, na classe Swallow. Um ano que traria ainda uma outra medalha de bronze, numa prova equestre.

Com efeito, após o hipismo, a vela seria a modalidade mais medalhada até meados do século XX, na esteira da saga dos descobrimentos, obviamente com outras velas de vento em popa. Como tal, Portugal obteria uma medalha de bronze em Helsínquia, em 1952, na classe Star e repetiria a proeza em Roma, em 1960, desta feita conquistando a prata na mesma prova, com os irmãos Quina. Acrescente-se que 1960 seria também o ano da primeira transmissão dos Jogos via satélite, com mais de 200 milhões de espectadores, o que sobrevalorizaria o evento, guindando-o à escala global.

No entanto, a partir de 1976, em Montreal, para além da medalha de prata em tiro com arma de caça, na prova de fosso olímpico, conseguida por Armando Marques, o atletismo passaria a dominar as prestações portuguesas. Efetivamente, logo neste ano, Carlos Lopes correria a prova dos 10 mil metros para a prata; e anos depois, em 1984, em Los Angeles, traria para o país a primeira medalha de ouro, vencida na maratona, estabelecendo o recorde da prova que duraria 24 anos. Um ano em que também se destacaria Rosa Mota na maratona feminina com uma medalha de bronze e António Leitão, nos 5 mil metros, também medalhado com bronze.

O ouro repetir-se-ia em 1988, em Seul, na maratona feminina, por parte de Rosa Mota e novamente em Atlanta, em 1996, por Fernanda Ribeiro, nos 10 mil metros femininos. Aliás, nesse ano de 1996, Portugal voltaria a conquistar uma outra medalha de bronze na vela, na classe de 470 masculino.

Entrementes, em Sidney, no dealbar do século XXI, concretamente no ano 2000, 3 medalhas viajariam com a representação portuguesa até casa: a prata na modalidade de ciclismo , na prova de estrada, por Sérgio Paulinho e também no atletismo, na competição dos 100 metros, pelo célere Francis Obikwelu. Umas Olimpíadas que se saldariam ainda pelo bronze nos 1500 metros masculinos, por Rui Silva.

Todavia, o ano de 2008 traria o regresso ao ouro. Realmente, nos jogos em Pequim, o atleta Nelson Évora venceria o triplo salto masculino e Vanessa Fernandes conquistaria a prata no triatlo feminino.

Entretanto, já na segunda década deste século, a prata voltaria na canoagem, em K2 1000 metros, pela dupla Emanuel Silva e Fernando Pimenta, nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Por sua vez, no ano de 2016, no Rio de Janeiro, apenas o bronze brilharia no Judo, na competição de 57 G feminino) graças aos golpes de Telma Monteiro.

Depois, como sabemos, no ano de 2020 as Olimpíadas de Tóquio seriam adiadas para 2021, devido à pandemia do coronavírus. Ora, nessa altura, novamente o ouro voltaria a reluzir para as nossas cores, por parte de Pedro Pichardo, no triplo salto masculino. Uma modalidade que também, na parte feminina, haveria por conquistar uma medalha de prata pela prestação da nossa atleta Patrícia Mamona e que se saldaria ainda pelas medalhas de prata em judo, por Jorge Fonseca e canoagem, por Fernando Pimenta.

Porém e para além dos sucessos, ocorreram também desaires. Recordemos, por exemplo, a triste morte do maratonista de 29 anos Francisco Lázaro, nos Jogos Olímpicos de 1912, em Estocolmo, que desfaleceria no decurso da prova ao quilómetro 29, acabando por falecer horas depois. Uma morte envolvida em algum mistério, mas que a autópsia atribuiria a desidratação e insolação, eventualmente agravado pelo facto do atleta se ter besuntado de sebo antes da corrida.

Como é óbvio, o país teve ainda relevantes atletas, alguns vimaranenses, que não obstante não haverem sido galardoados olimpicamente, mostraram os seus pergaminhos além fronteiras, quer a nível individual quer coletivo. De facto, no atletismo, basta recordar Aurora Cunha vencedora das provas do campeonato do mundo de estrada em 1984, ano em que também participaria nas Olimpíadas, nas quais granjearia um diploma olímpico pelo sexto lugar obtido nos 3 mil metros. Campeonato do Mundo de estrada que a atleta bisaria em 1985 e 1986 e posteriormente passaria pela conquista da Taça do Mundo de Pista em 1985, em Camberra, bem como as maratonas de Paris e Tóquio (1988) e ainda Chicago (1990) e Roterdão (1992).

Ou ainda, relembrar os gémeos Domingos e Dionísio, que dão nome à Pista de Atletismo Gémeos Castro, inaugurada em de Guimarães, em 2002, especialmente Domingos Castro, que entre outros sucessos, foi vice-campeão do mundo dos 5 mil metros em 1987 e nas Olimpíadas de Seul (1988) conseguiria um 4º. lugar na citada prova, ficando a escassas centésimas do pódio. Um atleta que, contudo, conta ainda no seu currículo desportivo com a Maratona de Roterdão (1997) da qual foi vencedor.

Mais recentemente e na última década, saúdam-se também os êxitos de Ana Dulce Félix, campeã europeia dos 10 mil metros e medalhada com bronze e prata nos Europeus de Corta-Mato, respetivamente em 2010 e 2011, bem como os desempenhos dos tenistas João Sousa e as irmãs Francisca e Matilde Jorge.

Mas nomes e façanhas não faltam no desporto vimaranense. Saliente-se o ultramaratonista Vítor Rodrigues, vencedor de várias provas no país e no estrangeiro e o primeiro a bater o recorde da maior distância percorrida em 24 horas (251,2 quilómetros), assim como nomes emergentes na natação, designadamente o nadador do Vitória João Costa que obteve os mínimos para estes Jogos Olímpicos de Paris, na disciplina de 100 metros costas.

Paralelamente, sobressaem ainda Rui Bragança no taekwondo, que foi nono nos Jogos Olímpicos do Ria de Janeiro  e na luta vários atletas se impõem, designadamente no kickboxing, jiu-jitsu e nas Mixed Martial Arts (MMA). Modalidades a que se ajuntam outros nomes eminentes no triatlo e nas 4 rodas, especificamente no Karting, como a jovem Maria Germano Neto. 

De destacar ainda no âmbito do Desporto Adaptado, as conquistas internacionais dos judocas José Alberto Rocha e Nelson Emanuel Silva e ainda Susana Daniel Castro no salto em comprimento, entre outros. Nomes a que se ajuntam, no judo adaptado, o atleta Paulo Jorge Lemos, Susana Sampaio, Patrícia Oliveira, Carlos Digo Alves e ainda Elisabete e Carlos Manuel.  E, obviamente, o maratonista Manuel Freitas Mendes, atleta amputado do braço esquerdo, que entre vários feitos regista no seu currículo uma medalha de bronze na maratona T-46,nos Jogos Paraolímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, a que acrescenta, entre outros troféus de campeão, as provas nacionais de estrada em 2015 e ano seguinte e o 2º. lugar na Maratona de Sevilha ao serviço da seleção nacional. 

Realmente, na esteira do passado, em especial na modalidade de Tiro, que em 1933 seria impulsionado pela Fundação do Grémio Industrial de Pevidém, Guimarães mantém-se no pódio como cidade do desporto e de campeões. Basta recordar José Marques Rodrigues campeão europeu em 1954 que integraria a seleção nacional campeã mundial em 1957 ou Eduardo Jordão, Campeão do Mundo em 1971. Tradição de campeões entre os quais se registam ainda José Júlio Batalha, e Ricardo Queirós, entre vários outros, como Manuel Vieira da Silva, que representou Portugal nos Jogos Olímpicos de Barcelona (1992), Atlanta (1996) e Pequim (2008), que nesta última participação em tiro (fosso olímpico) se posicionaria entre os seis finalistas.

De igual modo, não podemos olvidar as participações nos desportos coletivos. Deste modo,  Fernando Meira na modalidade de futebol nos Jogos Olímpicos de 2004 e posteriormente no Mundial de 2006 e Euro 2008, bem como  Rui Silva, em andebol, nos jogos do ano 2000.

De facto, Guimarães orgulha-se de ser uma cidade de desporto e conquistadores, que em 2013 seria designada Cidade Europeia do Desporto e seria distinguida como a “Melhor Cidade  Europeia do Desporto” entre as outras 10 cidades indigitadas …

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