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A reconstrução da praça de toiros em 1947

Álvaro Manuel Nunes
Opinião \ domingo, julho 10, 2022
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Na madrugada de 28 Julho de 1947, a escassos dias do início das Festas Gualterianas, a Praça de Toiros construída ao longo dos últimos meses junto ao cemitério da Atouguia, ardia completamente.

Na madrugada de 28 Julho de 1947, já lá vão 75 anos, a escassos dias do início das Festas Gualterianas, a Praça de Toiros construída ao longo dos últimos meses junto ao cemitério da Atouguia, ardia completamente.

A Praça de Toiros que ia ser inaugurada no domingo seguinte, ficaria assim reduzida a cinzas, com exceção dos alicerces em pedra e a trincheira. Na altura, Guimarães mergulhou em profunda tristeza e o desânimo apoderou-se dos vimaranenses nas primeiras horas do alegado desastre. Com efeito, a tourada era um número fundamental do programa das Gualterianas, pelo que a falta de recinto inviabilizaria as duas corridas previstas para domingo e segunda-feira na qual marcavam presença nomes sonantes da tauromaquia. De facto, o cartaz tauromáquico anunciava o espada Diamantino Viseu,  o novilheiro mexicano Pepe Luiz Vasques e os Forcados Amadores de Montemor-o-Novo e os cavaleiros Simão da Veiga e Conchita Cintron, entre outros, num elenco considerado promitente.

Porém, do desânimo à ação foi um ápice e uma outra chama, a da esperança, já começa a  arder! Assim, seguem-se as manifestações mobilizadoras ao som dos acordes das bandas musicais dos Bombeiros Voluntários e da Oficinas de S. José e o Hino da Cidade cantado emocionalmente `”ó Guimarães, teu progresso e tua vida, é toda a nossa aspiração”, incita a meter mãos à obra.

Assim, quase de imediato, ocorre também uma primeira reunião na casa de Camilo Laranjeiro dos Reis. Depois surge a oferta de A. Salgado de fornecimento de madeira, e logo a seguir convoca-se uma reunião no Grémio do Comércio, com a presença da Comissão de Festas, com mestres construtores concelhios e do empresário tauromáquico José Rodrigues Trindade. E a conclusão seria: havia madeira, havia mestres, havia vontade … logo toca a avançar.

Deste modo, criaram-se os grupos de trabalho para meter mãos à obra, mobilizando-se empreiteiros, técnicos, e obreiros.

Entretanto a “Cabine de Som” instalada no Toural, dirigida por José Abílio Gouveia, apelava à colaboração bairrista dos vimaranenses. Como tal, nos escassos três a cinco dias que mediavam o início das festas, a Praça de Touros ressurgiria das cinzas, como fénix renascida, com o apoio de mais de 500 operários trabalhando dia e noite, colaboração dos empresários em materiais e meios logísticos e adesão dos estudantes, que em férias se ajuntariam voluntariamente ao empreendimento.

Simultaneamente, organiza-se um Cortejo de Oferendas que rende dezenas de contos e reúne uma grande abundância de géneros alimentícios, que iriam proporcionar as refeições aos voluntários, confecionadas e servidas por senhoras e meninas voluntariadas.

Um acontecimento e esforço titânico que a imprensa local e nacional referenciariam, como o título e subtítulo do Jornal de Notícias de 30 de julho deixa transparecer: “Toda a cidade de Guimarães trabalhava para a reconstrução da Praça de Touros /E a obra, dentro de cinco dias, ressurgirá das próprias cinzas”.

De facto, uma jornada épica que seria ainda recordada no poema “A nossa gente é assim”, publicado no Notícias de Guimarães, em 1947, há 75 anos, de autoria do vimaranense Delfim de Guimarães (1885-1962), que curiosamente, como em consonância, nasceria e faleceria nos finais de Julho:

 

“É gente que se move e não quer peias …

Da fidalguia aos rudes cutileiros

Há sangue a referver nas suas veias

De impávidos e célebres guerreiros …

 

Não adormece ao canto das sereias …

Gente que não atende a mesureiros

Que abominou, de sempre, as verborreias

Que arengadores de feira aventureiros

 

A nossa gente é assim … É orgulhosa.

Se lhe ferem a alma, é assombrosa

Na sua desafronta (sem defesa …)

 

É a raça que perdura inalterável

Do Rei Conquistador e formidável

Que nos doou a Pátria Portuguesa”.

 

Com efeito, “ a nossa gente é assim” …

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