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Efemérides Vimaranenses

Álvaro Manuel Nunes
Opinião \ domingo, setembro 18, 2022
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Cem anos passaram céleres, quer para o Vitória, quer para o ilustre “vimaranense por adoção” J. Santos Simões, de que para o ano falaremos - duas efemérides abraçadas numa grande afinidade: Guimarães.

Em 2022 passa o centenário da fundação do Vitória Sport Clube; e em 2023 perpassam 100 anos do nascimento de J. Santos Simões, efemérides que à partida parecem nada ter entre si.

No entanto, polémicas à parte sobre o nome do primeiro presidente vitoriano e outras controvérsias afins, o certo é que, entre as várias produções literárias de Santos Simões, consta também o livro “Futebol Vimaranense: das origens aos estádios” ,  o que é sintomático das ligações afetivas do seu autor a (quase) todas as coisas e loisas que se ligam a Guimarães.

Ora, é deste (pequeno) livro que respigamos a maioria das informações deste artigo, do qual aqui e agora selecionámos algumas passagens.

Assim, escreve Santos Simões que, “no que respeita à prática deste desporto, em Guimarães, deve estar ligada, segundo o meu amigo Engº. Alberto Costa, à vinda de técnicos ingleses, na década de 90 do século passado, para a Companhia de Fiação de Guimarães, embora sem nenhuma confirmação fidedigna e outros admitam que os primeiros praticantes do football association tenham sido também técnicos ingleses que instalaram e mantiveram, em Guimarães, a central elétrica da United Light and Power Supply  Cª. Ltd.”

De facto, o que parece não suscitar dúvidas, é que o desporto da bola no pé teve mãos inglesas.  Crê-se assim e é suposto admitir-se, que a prática do futebol em Guimarães daria os primeiros pontapés grosso modo entre 1902 e 1903, no terreno situado em frente à central, junto à Igreja dos Santos Passos.

Porém, ao que consta, somente em 1913 há notícias da prática local deste desporto. Com efeito, como se escreve no semanário republicano vimaranense de A.L. de Carvalho “Alvorada”, datado de 13 de Março de 1913, sob o título “Foot-Balle, um Grupo Vimaranense vai a jogo desta modalidade desportiva, no “domingo, dia 16 do corrente, pelas oito horas precisas, no “Court d’Atouguia” (atual parque de estacionamento automóvel do cemitério da Atouguia).

Novas notícias surgem posteriormente na imprensa da época, no “Comércio de Guimarães” de 31 de Março de 1914, sob o título “Desafio de Foot-Ball”: “Na quinta-feira passada no Campo da Atouguia, realizou-se um desafio de “Foot-ball” entre o 3º. team do Internato Municipal e o 2º. da Escola Académica. Ambos os teams se portaram com bravura, terminando com a vitória do Internato Municipal"

Mais tarde, as mesmas equipas voltariam a defrontar-se, em 21 de Janeiro de 1917 e depois em 24 de Maio de 1919, com novos triunfos do Internato Municipal, o campeão desses tempos. Posteriormente, em 1 de Fevereiro de 1920, o mesmo periódico noticia que o jogo entre o “Vilanovense Foot Ball Club” (de Gaia) e o Sporting Club Académico, desta cidade, “decorreu com grande animação (…) e terminou com a victoria do Sporting Club Académico, que venceu o Vilanovense por 4 contra 1.”

Deste modo, nas primeiras e segundas décadas do século XX, terão sido dados os primeiros chutos na bola, com o Vitória a nascer pouco depois. O Engº. Hélder Rocha, contar-nos-ia um pouco mais dessa história no opúsculo intitulado “Aqui nasceu Portugal”, de Junho de 1959: “O início da vida do Vitória perde-se nas brumas do tempo. Aliás isso acontece certamente com todas as coletividades suas congéneres.  Diz-se que a ideia de formação do Clube resultou duma conversa pacata, havida entre moços de então, debaixo de uma copada árvore do velho Largo de S. Francisco (…) Pode-se, entretanto afirmar, com mais certeza, que o Vitória concretizou a sua existência na tertúlia da “Chapelaria Macedo” (as duas últimas portas do Café Milenário confinantes com a torre da Alfândega), ponto de reunião de um grupo de entusiastas do desporto que a frequentava e onde predominavam alguns oficiais do Regimento então aquartelado em Guimarães. O Estatuto do Clube diz-nos, porém, que a coletividade teve a sua fundação em 1922 e esta data, certamente, é aquela em que se oficializou a sua organização para a prática do desporto".

Todavia, as memórias do Vitória são múltiplas, de tal forma que não podem ser contidas um simples artigo de circunstância. Por exemplo, António Augusto Almeida Ferreira, numa crónica publicada no Notícias de Guimarães, em 26 de Janeiro de 1964, sob o título “Para a história do futebol em Guimarães”, acrescentaria que, além da tertúlia da Chapelaria Macedo, teria sido importante o papel dos alferes Gervásio Martins Campos de Carvalho e seu primo José Vieira Campos de Carvalho, naturais de Fafe, a quem se deveria a fundação do clube devidamente organizado: “As reuniões preparatórias do Clube tiveram lugar no salão-teatro da Associação da Juventude Católica, à Rua D. João I´, então instalada no palacete brasonado que ali existe. O nome do Vitória Sport Clube foi decalcado do Vitória Futebol Clube de Setúbal, grupo que nessa época era um dos melhores do país pela qualidade do “association” que praticava".

Todavia, preto no branco, a primeira notícia da existência do Victoria Sport Club (de Guimarães) consta no jornal local “Ecos de Guimarães”, datado de 17 de Dezembro de 1922, anunciando o “match” entre o Victoria e o “Maçarico Sporte Club da Póvoa de Varzim”, que, segundo o mesmo periódico de 24 de Dezembro, acabaria afinal por ser disputado contra “uma selecção poveira um tanto estrupiada”,  constituída por todos os clubes da vila.

Ato contínuo segue-se a luta e conquista por um espaço próprio para a prática do futebol que se viria a consumar com a inauguração do Campo José Minotes, em 6 de Janeiro de 1924, nos terrenos onde hoje se instala a Comunidade Intermunicipal do Ave e que, nas Festas Gualterianas de 1923, foram utilizados para um concurso hípico.

Um primeiro jogo inaugural em casa própria, no qual o Vitória perderia com o Sporting Club de Braga por 4-0, não obstante o resultado ter sido atenuado pelo brilhantismo da atuação da banda regimental de Infantaria 20, que daria música aos assistentes e tornaria a exibição mais importante que o score final.

Porém, em 5 de Outubro de 1924, o periódico “Ecos de Guimarães” despejaria  mais um duche de água fria: “Guimarães está outra vez sem campo de jogos. As razões porque o seu proprietário se viu forçado a demolir as bancadas são algo complicadas e portanto não queremos entrar em detalhes. O que lamentamos é que nesta terra nada vingue desde que cheire a progresso, a desenvolvimento, a modernismo. Mas … nada de desanimar”.

E, de facto, o ânimo regressaria, aquando da inauguração do ”Campo da Perdiz”, situado próximo da Atouguia , que funcionaria entre nós  até Maio de 1928. Seguem-se quase quatro anos de penosa sobrevivência, sem espaço próprio, até 24 de Janeiro de 1932, até à abertura do Campo de Benlhevai, “mercê da boa-vontade dum grupo de rapazes vimaranenses (…) que não nadam em dinheiro” , lê-se no Notícias de Guimarães desse tempos.

Mas do Benlhevai à Amorosa foi quase um saltinho, que passaria pela travessia da ponte de Santa Luzia. De facto, em 1946, o Vitória mudaria de ares para o Campo da Amorosa, a bancada da minha infância e da minha mocidade, pela mão de meu pai, como muitos outros da minha geração. Porém, cerca de 20 anos depois as emoções e vivências transferir-se-iam da Amorosa para o Estádio Municipal de Guimarães, em 3 de  Janeiro de 1965. Um novo saltinho para um estádio ainda inconcluso e inaugurado apenas informalmente, o que é demonstrativo das várias peripécias da caminhada vitoriana para a sua autonomia.

Com efeito, longas polémicas se desencadeariam na época sobre a utilização e condições estruturais e logísticas do Estádio Municipal, até à sua conclusão e inauguração definitiva. Mas ele aí está, (re)batizado com o nome do primeiro rei português, D. Afonso Henriques, o campo de contenda de várias outras batalhas de S. Mamede …

Entrementes, cem anos passaram céleres, quer para o Vitória quer para o ilustre “vimaranense por adoção” J. Santos Simões, que certamente para o ano falaremos com mais detalhe. Afinal, como se verifica, duas efemérides que se abraçam numa grande afinidade entre si: Guimarães …

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