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Guimarães no Euro

Álvaro Manuel Nunes
Opinião \ terça-feira, junho 11, 2024
© Direitos reservados
Um novo ano para acompanhar a nossa seleção no Euro, que mais uma vez é disputado num país da diáspora das comunidades portuguesas, que, na esteira de 2016, em Paris, pode ser um bom prenúncio...

Neste ano de 2024 ocorre o Europeu de Futebol, entre 14 de Junho e 14 de Julho, a ter lugar na Alemanha, no qual Portugal marca presença, com jogos marcados na fase de grupos para 18, 22 e 26 de Junho. 

Ora, Portugal tem créditos firmados no Campeonato Europeu de Futebol, também conhecido por Euro ou Eurocopa, que desde 1960 se disputa de quatro em quatro anos. De facto, Portugal não só venceu o Euro 2016, disputado em França em 10 de Julho, sob o comando de Fernando Santos, como também foi semifinalista nos anos de 1984, 2000 e 2012. Uma prova em que, curiosamente, dois portugueses (também) bateram o recorde de participações na competição: Cristiano Ronaldo em 5 edições e 25 jogos; e Pepe nas mesmas 5 edições, com 18 partidas disputadas. Significativos recordes desportivos que o goleador por CR7 também bateria, com 14 golos à sua conta, no cômputo geral dos seus 25 jogos.

Além disso, Portugal organizou também a 12ª. edição do Euro 2004 que teve um palco precisamente em Guimarães, no estádio D. Afonso Henriques, já lá vão 20 anos, com a disputa de dois jogos do grupo C: Dinamarca-Itália, em 14 de junho que terminaria num empate sem golos; e Itália-Bulgária, em 22 de Junho (domingo), que se saldaria pela vitória dos transalpinos (2-1),  não obstante a sua eliminação e o consequente apuramento de ambos os países nórdicos do grupo, a Dinamarca e a Suécia.

Mas, mais que a bola a rolar na relva, o evento traria ao país mais de um milhão de forasteiros, mobilizando 20 mil voluntários e 10 mil jornalistas, num evento de massas que concentraria  cerca de 850 milhões de telespectadores defronte dos televisores.

Efetivamente, uma competição desportiva que levaria à construção e/ou recuperação de 10 estádios em 8 cidades do país: Aveiro, Braga, Coimbra, Guimarães, Leiria, Loulé, Porto e Lisboa e que mereceria por parte do Comité Organizador os melhores encómios, ao ponto de considerarem que “nunca até à data, um campeonato europeu foi tão bem preparado e tão bem organizado”.

De facto, um certame que teve um impacto importante para além das 4 linhas do retângulo de jogo, mas que infelizmente teve como aspeto negativo a derrota final de Portugal, no mata-mata contra a Grécia (0-1), no estádio da Luz, em 4 de Julho, apesar da galvanização popular do país e da equipa, sob a égide de Filipe Scolari.

Como é óbvio, Guimarães viveu também intensamente esses dias do Euro 2004, quer na cidade, quer no estádio ou no “euródromo”, instalado junto ao Multiusos

Como sempre o Pregão Nicolino documenta e historia o evento:  

 

“O delírio chegou já alto Junho ia

O povo se juntou em grande euforia

E mesclando-se com esses dinamarqueses

Da sua simpatia ficaram fregueses

A cada lua aquela Praça se encheu

De olhos postos no écran, no Europeu

Ai que saudade, oh meu povo, que beleza!

Eu ainda oiço o bradar da “Portuguesa”!”

 

De facto, a profusão de bandeiras nacionais nas janelas e varandas, bem como os jornais da época são elucidativos dessa onda de festa que marcou o país e a cidade e que traria até Guimarães enormes vagas invasoras de vikings, desta feita de avião, em detrimento da navegação rio o Ave acima, como ocorria nos tempos de antanho, no século XI, de armas em punho, em vez da cerveja de agora, bebericada nas esplanadas.  

 

O semanário “O Povo de Guimarães” de 18 de Junho, sob o título “Invasão Viking”, relata essa invasão pacífica:

“Guimarães sentiu no último fim-de-semana e na passada segunda-feira a festa do futebol em todo o seu esplendor. Milhares de adeptos de futebol, em especial italianos e dinamarqueses (…) muito numerosos e ruidosos fizeram a festa e depois do embate conquistaram amigos e admiradores em Guimarães (…) num ambiente divertido e com muito fair-play à mistura, tanto antes como depois do jogo (…) Guimarães inundou-se do vermelho viking ponteado por alguns azzurri num momento de comunhão que dificilmente Guimarães verá repetida e de forma alguma esquecerá.

O PG esteve à conversa com alguns adeptos italianos e dinamarqueses que gabaram a beleza da cidade e da hospitalidade dos vimaranenses”.

 

Outrossim e paralelamente, o Euro 2004 contribuiu para benfeitorias diversas na cidade. Realmente, após a atribuição do Euro 2004 a Portugal, decidido pela UEFA em 12 de Outubro de 1999, muito trabalho haveria ela frente. Em primeiro lugar era premente a requalificação da área envolvente ao estádio D. Afonso Henriques e a sua remodelação, de forma a comportar 30 mil espectadores e melhorar as suas estruturas e aspeto visual, do qual o artista vimaranense Victor Costa se encarregaria, concretamente na decoração das bancadas. Estádio que, curiosamente, seria até benzido por Fernando Nogueira, conhecido pelo “bruxo de Fafe”, tendo em vista atalhar o mau-olhado no relvado, perante os deficientes resultados desportivos registados pelo Vitória, a viver um período de certa instabilidade diretiva.

O Pregão Nicolino de 2004, de autoria de Rui Teixeira e Melo, como documento fidedigno dos anais vimaranenses, regista esses momentos:

 

Do mundo da bola vem novidade grossa            Ungido que estava com tanta água benta

O Vitória quase desceu, a coisa fez mossa           Já no mês de Maio renunciou Pimenta

A revolta cresceu, o pessoal indignado                 Aberta essa porta, abriu-se a sucessão

Viu o Vitória muito mal classificado.                     Parecia Cirilo homem de cadeirão,

Foi um Deus nos acuda! Foi uma aflição               Rapidamente, em subversiva manobra,

Mão divina salvou a queda de divisão,                 Aparece Almeida não renegando obra.

Pimenta ao ver aquele plantel algo murcho          E de Moreira veio para Guimarães

Decidiu contratar um infalível bruxo.                   Com Manuel Machado, o Vítor Magalhães”

 

De facto, não foram pacíficos esses tempos anteriores ao Euro 2004 por variadas razões e contratempos. Recorde-se, por exemplo, que o próprio Contrato-programa de Desenvolvimento Desportivo sobre a obtenção de fundos comunitários para remodelações do estádio seria considerado “afetado de nulidade” pelas autoridades da tutela, pelo facto da Câmara Municipal não poder ser titular do direito de propriedade, situação que provocaria  alguns desajustes entre os presidentes da  Câmara de Guimarães, António de Magalhães  e  do Vitória, Pimenta Machado.

Mas para além do estádio, cuja remodelação e inauguração ocorreria antecipadamente em 25 de Junho de 1923, a intervenção urbana estendeu-se também aos acessos a Guimarães, em especial à ferrovia. Na verdade, quer diretamente na modernização da linha férrea, quer indiretamente, como nas obras de supressão das passagens de nível em Covas e o desnivelamento do nó do Castanheiro, a reconversão da linha de Guimarães, permitiu ainda, à colação, otimizar os acessos no cimo da Avenida D. João IV .

De facto, as acessibilidades  seriam uma prioridade que se traduziriam ainda na abertura da variante de Fafe e uma infinidade de arranjos urbanísticos em várias artérias da cidade.

As remodelações estender-se-iam ainda à estação da CP em Guimarães, adaptadas parcialmente para instalar a equipa de trabalho que integraria o Gabinete Municipal do Euro 2004 e aos espaços de estacionamento que seriam aumentados em cerca de 5 mil lugares, quer para autocarros quer para viaturas ligeiras.

Uma logística que, a despeito do alojamento sobrelotado, seria ainda reforçado com a criação da unidade hoteleira Vila Hotel, na Avenida D. João IV, a reabertura recuperada do Hotel das Termas, nas Caldas das Taipas, bem como a inauguração da Pousada da Juventude, no largo do Cidade.

Serviços a que se acrescentaria a constituição de equipas de voluntariado diversas e a decoração da cidade, bem como a abertura alargada do horário do Cybercentro, sempre lotado. Outrossim, a criação de um Plano de Emergência Externa para acorrer a casos de acidentes, incêndios urbanos ou outras emergências, que no contexto do Serviço de Proteção Civil se alargaria aos condicionamentos de trânsito.

Paralelamente, do ponto de vista social seriam ainda desocupadas as barracas na variante de Creixomil, instalando-se os seus ocupantes de etnia cigana em bairros sociais concelhios.

Também a nível cultural seriam empreendidas iniciativas significativas. Lembre-se, a propósito, as obras levadas a cabo no Museu Alberto Sampaio que criariam 5 novas salas temáticas e o lançamento da iniciativa “Guimarães à Noite”.

Igualmente, a cidade de Guimarães seria ainda incluída no projeto cinematográfico da Chiado Terrasse Filmes intitulado  “Euro 2004 – um filme”,  do realizador Rui Goulart, um documentário ficcionado  que incidiria sobre o fenómeno do futebol e a sua representação sociológica.

Ademais, um programa de animação seria lançado compreendendo 23 espetáculos. Iniciativas  diversas que abarcariam um desfile de moda, um espetáculo de dança, oito “workshops” e vários concertos, entre outros com os Rádio Macau, Delfins, Santos e Pecadores e Vitorino. Atividades que se estenderiam ainda à vertente desportiva, no Parque da Cidade e às crianças, com o Parque de Insufláveis.

O programa integraria ainda realizações do calendário cultural da cidade, como a Feira do Comer e o Festival Gil Vicente”, nomeadamente a performance “Nicos”, inspirada em símbolos do teatro vicentino, que sob a responsabilidade do Teatro Oficina envolveria um elenco de cerca de 100 pessoas.

Um mês em cheio, com desporto e animação, para ficar na memória da cidade …

Igualmente, um novo ano para acompanhar a nossa seleção através da TV, que mais uma vez é disputado num país da diáspora das comunidades portuguesas, que, na esteira de 2016, em Paris, pode ser um bom prenúncio...

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