Luís de Camões
A 10 de Junho, data de falecimento de Camões, o poeta foi evocado em Guimarães, em três sessões separadas: no decurso da manhã, na sede da Associação Recreativa “Os 20 Arautos” , iniciativa integrada na celebração do Dia da União de Freguesias da Cidade, promovida pelo Presidente da Junta Rui Porfírio; e ainda na Sociedade Martins Sarmento, que sob a denominação “Sentir Camões” comemorou os 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões (1524-1580). Iniciativa que à tarde contaria também com uma sessão da FNAC.
Três sessões a que porventura não será alheio a ligação do burgo vimaranense ao nosso épico, que no tricentenário da sua morte, em 1880, lhe devotou grandiosa homenagem e consagrou o seu nome na toponímia local, atribuindo à antiga Rua das Oliveiras a denominação de Rua de Camões.
Ressuscitar Camões e “aqueles que por obras valorosas/Se vão da Lei da Morte libertando”, tem no entanto um sabor agridoce, malgrado as melhores da intenções dos promotores.Com efeito, o que seria devido, como em 1880, seria que as instituições vimaranenses congregassem e coordenassem as suas iniciativas, eventualmente articuladas pela edilidade ou comissão específica criada para o efeito. Mas não foi o que aconteceu …
Deste modo, Camões passou n’ “Os 20 Arautos”, através da interpretação de António Leite, do Bando do Gil, que leu e cantou poemas líricos e passagens da épica camoniana, em especial as estrofes 31 e 35, do canto III , que aborda Guimarães; e F. Capela Miguel e Álvaro Nunes apresentaram Camões, tendo em conta o opúsculo produzido por ambos, que além de imagens camonianas publica cinco textos alusivos ao poeta: Vida e obra de Camões; Camões e(m) Guimarães; Camões e os outros; Camões e o seu tempo; e Camões e as mulheres. Uma
sessão que culminaria com a colocação de uma coroa de flores de tributo ao poeta, colocada na Rua de Camões.
Por sua vez, na Sociedade Martins Sarmento (SMS), Camões não se faria rogado e também apareceria, com o dom da ubiquidade que se reconhece aos poetas. Deste modo, para além da exposição camoniana patente ao público, onde consta a primeira edição d’ “Os Lusíadas” (1572), apresentada por Salomé Duarte, bem como outras preciosidades, designadamente do colecionador António Meireles Martins, ocorreria também uma declamação de poesia pela Associação de Guimarães (IN)VOLVE e a apresentação de uma Banda Sonora pelo Grupo Voltar à Escola, que igualmente apresentou um lenço de namorados inspirado no vate homenageado.
Por fim, à tarde, Camões visitou a FNAC. Uma outra sessão de conversa sobre o poeta, acompanhada pela declamação de poesia e canto alusivo ao autor, que contou com as vozes de F. Capela Miguel, António Leite e Luís Almeida. Uma sessão que surpreenderia os presentes, em particular com a apresentação de produções inéditas de Luís Almeida, nomeadamente uma versão camoniana em hip-hop e a colagem de excertos da epopeia com a “Mensagem” pessoana.
Camões promete voltar à liça e à rua a 5 de Agosto no carro alegórico da Marcha Gualteriana, que sabemos será elaborado pela artista Madalena Macedo e encenado pelos “Osmusiké”.
No decurso das sessões, seria ainda recordada a sugestão de colocar na Colina Sagrada um memorial alusivo a Camões, contendo as estrofes d’Os Lusíadas” acima mencionadas, cujo teor se centra na Batalha de S. Mamede e Cerco de Guimarães por Afonso VII. Cremos, contudo que poderá ser mais uma proposta para as calendas, tal como a inclusão de um simples “cheirinho” complementar de peças de Gil Vicente nos festivais em seu nome. Quiçá as escolas e os grupos de tetro amador agradecessem esta inclusão …
Em súmula, três encontros agradáveis, ainda que separados e que julgamos teriam sido mais proveitosos devidamente articulados …
Termino, em homenagem pessoal a Camões, com um simples poema, que obviamente não chega aos calcanhares do destinatário, mas que tem boas intenções:
Não há medida velha ou medida nova.
À medida de teu versejar perfeito,
Nem engenho que a epopeia prova
No estudo e saber da experiência feito
Não há Ilha de Amores ou tenças
Que premeiem o teu doce encanto
Nem velhos do Restelo que convenças
Que só na ousadia cabe teu canto …
Não há Tágides, estro ou musa,
Nem seta de amor certeiro
Que incendeie tua alma lusa!
Numa mão a pena noutra a espada
Tu foste ao leme e na gávea gajeiro,
O poeta da nossa pátria amada …