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Ronda das Artes: em outubro, o domingo à tarde teve vida para lá do sofá

Tiago Mendes Dias
Cultura \ quinta-feira, novembro 04, 2021
© Direitos reservados
Na sua primeira edição, iniciativa mostrou o que está por detrás de vários espaços e criações artísticas de Guimarães. Organização tenciona apresentar novo roteiro no próximo ano.

Ao fazer o balanço da primeira Ronda das Artes, Luís Canário Rocha adianta o objetivo de realizar uma segunda edição em 2022. As motivações são duas: as sugestões de participantes sobre espaços, ateliers ou propostas culturais à medida que outubro decorria e a necessidade de se preencherem os domingos à tarde com algo mais do que o sofá.

“Há gente que pensa que isto vai continuar e me pergunta o que vai fazer ao domingo. Normalmente ao domingo não se passa nada e isto é um mote para se visitarem espaços que não estão habituados a visitar”, refere o responsável da Astronauta – Associação Cultural, uma das entidades organizadoras, a par da Comunidade Artística Vimaranense (CAV). O artista plástico confessou que o objetivo inicial era que o projeto simplesmente “corresse bem”, mas, depois do que viu, reitera a vontade de “continuar no próximo ano”.

A primeira Ronda decorreu nos dias 10, 17, 24 e 31 de outubro: começou nos lugares onde a arte fervilha mais longe do centro histórico vimaranense – o Centro e Laboratório Artístico de Vermil, a Astronauta, em Brito, ou o atelier de tintas artesanais Dartecor, em Moreira de Cónegos –, passou por estúdios de música (Alfaiate), por produtoras cinematográficas (Bando à Parte) e lugares conhecidos do público como o Centro Cultural Vila Flor, antes de encerrar com a visita a três espaços emblemáticos da cidade: o do Centro de Artes e Espetáculos São Mamede, com 50 anos, a sede da associação Convívio, fundada há 60 anos, em outubro, e o espaço que acolhe o Círculo de Arte e Recreio, instituição que data de 1939.

 

 

“As ideias são pessoas em relação”

No último dia, cerca de três dezenas de participantes vaguearam pelo auditório para 672 lugares, onde muitos viram pela primeira vez cinema – as recordações de Titanic (1997) vieram à tona -, e entraram num cubículo com uma máquina de projeção de cinema com mais de 30 anos, com o acompanhamento de Pedro Oliveira, o responsável pelo bar Tribuna, assim batizado em homenagem ao balcão médio do São Mamede.

Mais tarde, no largo da Misericórdia, os visitantes conheceram os cantos à casa do século XVIII que acolhe o Convívio. A antiga presidente Isabel Machado vincou que a associação foi pioneira na cidade com eventos como o festival de cinema amador, nas décadas de 60 e de 70, e com o Euroarte, evento de arte contemporânea que, em 1989, deu maior expressão a uma casa que já expunha vários artistas.

“O Convívio tem um espólio artístico muito rico, porque a prática era que o artista deixasse uma ou duas obras entre aquelas que expunha para venda. Graça Morais, Armanda Passos, Júlio Resende, José de Guimarães fizeram por aqui algumas das primeiras exposições”, disse.

A associada do Convívio contou até como despertou o interesse em criar o Guimarães Jazz, festival cuja 30.ª edição se realiza entre 11 e 20 de novembro. “Depois de assistir a um concerto de jazz no Paço dos Duques de Bragança, havia o interesse em assistir a mais concertos. Realizámos o primeiro festival com um cartaz português, que acabou com a Maria João numa sala repleta”, lembrou.

Isabel Machado lembrou mesmo que os projetos culturais só nascem quando as pessoas se juntam e lutam para que as coisas aconteçam. “As ideias e os projetos são pessoas em relação”, frisou. A ex-presidente do Convívio defendeu mesmo que foram as associações culturais de Guimarães que “criaram a urgência de equipar a cidade”, levando ao processo que originou o Centro Cultural Vila Flor, em 2005, e a Capital Europeia da Cultura, em 2012.

“Se ficarmos em casa no sofá, não se passa nada. Eu tenho orgulho na minha cidade. Em comparação com cidades da sua dimensão, Guimarães é culturalmente evoluída, embora já tenha sido mais. Da Capital Europeia da Cultura, ficou a Outra Voz e pouco mais”, avisou.

Pelo meio, Miguel de Oliveira, da Revolve, e Giliano Boucinha, da Elephante Musik, apresentaram uma breve história das promotoras e editoras de música, responsáveis por festivais vimaranenses como o Mucho Flow e o L’Agosto. A comitiva seguiu depois para o CAR, onde conheceu o percurso da associação e o projeto de artesanato Negro Violeta.

 

 

“Conhecer a origem é o que mais emociona”

Luís Canário Rocha diz que a primeira Ronda das Artes, não sendo “um evento para massas”, teve “muita aderência”. E crê que os visitantes regressaram às suas casas agradados com o que viveram. “As pessoas saem a pensar que isto é mesmo interessante”, salienta. “Há este movimento cultural em Guimarães, com muita gente a produzir e, às vezes pessoas não têm essa noção. Às vezes, até sabem quem faz as coisas, mas não conhecem os modos de produção ou os sítios onde trabalham”, acrescenta.

O responsável da Astronauta realça mesmo que o “que mais emociona” as pessoas, ao verem onde os artistas trabalham e onde as bandas ensaiam, é “conhecer a origem” do que se faz.

* com Pedro C. Esteves

 

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