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Ronda das Artes: em outubro, o domingo à tarde teve vida para lá do sofá
Ao fazer o balanço da primeira Ronda das Artes, Luís Canário Rocha adianta o objetivo de realizar uma segunda edição em 2022. As motivações são duas: as sugestões de participantes sobre espaços, ateliers ou propostas culturais à medida que outubro decorria e a necessidade de se preencherem os domingos à tarde com algo mais do que o sofá.
“Há gente que pensa que isto vai continuar e me pergunta o que vai fazer ao domingo. Normalmente ao domingo não se passa nada e isto é um mote para se visitarem espaços que não estão habituados a visitar”, refere o responsável da Astronauta – Associação Cultural, uma das entidades organizadoras, a par da Comunidade Artística Vimaranense (CAV). O artista plástico confessou que o objetivo inicial era que o projeto simplesmente “corresse bem”, mas, depois do que viu, reitera a vontade de “continuar no próximo ano”.
A primeira Ronda decorreu nos dias 10, 17, 24 e 31 de outubro: começou nos lugares onde a arte fervilha mais longe do centro histórico vimaranense – o Centro e Laboratório Artístico de Vermil, a Astronauta, em Brito, ou o atelier de tintas artesanais Dartecor, em Moreira de Cónegos –, passou por estúdios de música (Alfaiate), por produtoras cinematográficas (Bando à Parte) e lugares conhecidos do público como o Centro Cultural Vila Flor, antes de encerrar com a visita a três espaços emblemáticos da cidade: o do Centro de Artes e Espetáculos São Mamede, com 50 anos, a sede da associação Convívio, fundada há 60 anos, em outubro, e o espaço que acolhe o Círculo de Arte e Recreio, instituição que data de 1939.
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“As ideias são pessoas em relação”
No último dia, cerca de três dezenas de participantes vaguearam pelo auditório para 672 lugares, onde muitos viram pela primeira vez cinema – as recordações de Titanic (1997) vieram à tona -, e entraram num cubículo com uma máquina de projeção de cinema com mais de 30 anos, com o acompanhamento de Pedro Oliveira, o responsável pelo bar Tribuna, assim batizado em homenagem ao balcão médio do São Mamede.
Mais tarde, no largo da Misericórdia, os visitantes conheceram os cantos à casa do século XVIII que acolhe o Convívio. A antiga presidente Isabel Machado vincou que a associação foi pioneira na cidade com eventos como o festival de cinema amador, nas décadas de 60 e de 70, e com o Euroarte, evento de arte contemporânea que, em 1989, deu maior expressão a uma casa que já expunha vários artistas.
“O Convívio tem um espólio artístico muito rico, porque a prática era que o artista deixasse uma ou duas obras entre aquelas que expunha para venda. Graça Morais, Armanda Passos, Júlio Resende, José de Guimarães fizeram por aqui algumas das primeiras exposições”, disse.
A associada do Convívio contou até como despertou o interesse em criar o Guimarães Jazz, festival cuja 30.ª edição se realiza entre 11 e 20 de novembro. “Depois de assistir a um concerto de jazz no Paço dos Duques de Bragança, havia o interesse em assistir a mais concertos. Realizámos o primeiro festival com um cartaz português, que acabou com a Maria João numa sala repleta”, lembrou.
Isabel Machado lembrou mesmo que os projetos culturais só nascem quando as pessoas se juntam e lutam para que as coisas aconteçam. “As ideias e os projetos são pessoas em relação”, frisou. A ex-presidente do Convívio defendeu mesmo que foram as associações culturais de Guimarães que “criaram a urgência de equipar a cidade”, levando ao processo que originou o Centro Cultural Vila Flor, em 2005, e a Capital Europeia da Cultura, em 2012.
“Se ficarmos em casa no sofá, não se passa nada. Eu tenho orgulho na minha cidade. Em comparação com cidades da sua dimensão, Guimarães é culturalmente evoluída, embora já tenha sido mais. Da Capital Europeia da Cultura, ficou a Outra Voz e pouco mais”, avisou.
Pelo meio, Miguel de Oliveira, da Revolve, e Giliano Boucinha, da Elephante Musik, apresentaram uma breve história das promotoras e editoras de música, responsáveis por festivais vimaranenses como o Mucho Flow e o L’Agosto. A comitiva seguiu depois para o CAR, onde conheceu o percurso da associação e o projeto de artesanato Negro Violeta.
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“Conhecer a origem é o que mais emociona”
Luís Canário Rocha diz que a primeira Ronda das Artes, não sendo “um evento para massas”, teve “muita aderência”. E crê que os visitantes regressaram às suas casas agradados com o que viveram. “As pessoas saem a pensar que isto é mesmo interessante”, salienta. “Há este movimento cultural em Guimarães, com muita gente a produzir e, às vezes pessoas não têm essa noção. Às vezes, até sabem quem faz as coisas, mas não conhecem os modos de produção ou os sítios onde trabalham”, acrescenta.
O responsável da Astronauta realça mesmo que o “que mais emociona” as pessoas, ao verem onde os artistas trabalham e onde as bandas ensaiam, é “conhecer a origem” do que se faz.
* com Pedro C. Esteves
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